O sofrimento dispensa apresentações, tanto individualmente quanto em grupo. Mas relacioná-lo ao efeito manada é um exercício interessante.
No mercado financeiro efeito manada é, de certa forma, quando as pessoas agem na mesma direção que um grande grupo. O problema é que esta atitude nem sempre é pensada, nem sempre tem lógica ou é assertiva. Ela é realizada mais por instinto, medo, empolgação, necessidade de pertencimento ou falta de análise da situação. Então quando todos correm para o mesmo lado, mesmo sem pensar muito, ganham este rótulo.
Já o sofrimento coletivo penso que antecede ao efeito manada, pois acontece quando muitos corações sintonizados com a consciência sentem uma dose de dor muitas vezes insuportável. O que acontece? De tanta dor estes corações começam a bater de forma diferente: mais anestesiada, na tentativa de que talvez assim doa menos. Menos consciência, menos dor. É o que se espera. E logo ali adiante desta anestesia emocional está o efeito manada oferecendo, na maioria das vezes, companhia e uma saída para tanta dor. Saída esta que mostra-se em algum momento, uma cilada da realidade com um recado bem claro: Não há como fugir! Em algum momento o efeito da anestesia passa.
Nem sempre quem segue o efeito manada quer o caminho mais fácil, mas acredito que muitos queiram o caminho com menos dor, mesmo financeiramente falando. O pensamento tem certa lógica: se muitos estão indo por determinado caminho, talvez seja por ser um caminho suportável. No mínimo com menos solidão. Não aconselho este caminho, mas não jogo pedras.
Então, qual a saída mais saudável? Bem, nem sempre a dor é nossa inimiga. Ás vezes ela é um aviso que estamos desviando do que é verdadeiramente nutritivo. Se tivermos humildade, buscamos nos conhecer melhor e entender como agir de forma assertiva e lúcida.
O sofrimento coletivo resultado de políticas tóxicas, escancara o quanto muitos estão despreparados para lidar com a dor. A reivindicação que um dia aconteceu devido o aumento da passagem de ônibus confirmou isto. Não sabendo muito bem quem somos e o que estamos sentindo, não escutamos direito nossas dores e nos perdemos nas nossas lutas e revoltas. Saímos sangrando pelas ruas, e ao sangrar provocamos sangue também nos outros, pois estamos meio perdidos em como validar nossos objetivos. Anestesiados, vamos nos dar conta de nossos próprios machucados muito tempo depois de feridos, vamos nos dar conta da operação financeira mal feita depois de muitos prejuízos desnecessários.
Que a nossa coragem e a nossa parte saudável nos acorde à tempo de corrigirmos o trajeto.
A caminhada pode ser em grupo mas o aprendizado é individual.
Abraço!
Fernanda Nunes Gonçalves