Lá estava ele, um dos garçons do restaurante, retirando os pratos de uma das mesas. Ao retirá-los, ele ia empilhando-os um a um, estrategicamente, para que não caíssem. Formando uma grande flor de pratos, na tentativa de, talvez, facilitar o próprio trabalho e caminhar o mínimo possível. Na verdade, não conheço os motivos dele. O seu verdadeiro motivo para escolher arriscar-se com um número tão grande de coisas a serem equilibradas. Podia ser apenas um hábito, cuidado ou cansaço. Ou tantas outras razões.
Apesar do imenso movimento do restaurante, ele ia, lentamente, compartilhando seu malabarismo aparentemente alheio à todo movimento externo. Fisicamente, eram pratos a serem empilhados. Mas, assim como na vida, aquilo que se revela aos olhos tem significado múltiplo na alma. Pois, inúmeras vezes, vamos empilhando vida a fora nossos pratos reais e também os imaginários, na esperança de que algo organize-se dentro de nós.
Empilhamos tantas tarefas e sentimentos quanto caibam em nossos braços. Com o peso que nos cabe. Vamos somando pressas, talvez, com a intenção de facilitar nosso próprio caminho. E, nem sempre, estamos atentos se, de fato, estamos facilitando ou, no fundo, atrapalhando e pesando com pratos demais, na expectativa de dar conta de tudo sem que a gente derrube nada e que, principalmente, o estrago não seja tão devastador.
Há de se ter estratégia, certamente. E em outras situações, bom senso. E ainda, em outras, humildade pois os tombos são inevitáveis.
Mas que não nos falte sabedoria para avaliarmos o que vale a pena ser equilibrado. O que é apenas um alimento para o ego e o que realmente é essencial. E, também, aquilo que nos é possível no momento.
Pois, o que de fato equilibramos está invisível aos nossos olhos. São representados por objetos e tarefas. Mas, lá onde descansamos de nossas exigências, percebemos que, de fato, o que estamos equilibrando são nossas ansiedades, expectativas, cansaços, frustrações, alegrias, vulnerabilidades, exigências e recomeços. Nossa emoções fotografadas em nossas atitudes.
Que a gente reconheça, amorosamente, que haverão coisas que não poderão ser colocadas em nossos braços sem que antes sejam colocadas em nosso coração. E que, mesmo que consigamos equilibrar muitas atividades, a fim de fazer sorrir nosso ego, que a gente se curve para aquilo que realmente faz sentido. Lembrando que só existe o verdadeiro equilíbrio quando há comunhão com uma força maior.
Que não nos falte elegância para carregar tantas demandas, mesmo com os braços cansados.
Que a gente não se julgue duramente, no momento em que, apesar do nosso esforço, os desequilíbrios fizerem parte do caminho. Mesmo que façam muito barulho, por vezes, insuportáveis por dentro.
Que a gente aceite que, mesmo com boas estratégias, estamos em um eterno movimento de aprendizado e aceitação em busca de equilibrar nosso reconhecimento naquilo que já nos foi presenteado, e naquilo que ainda estamos em busca.
Que tenhamos uma postura respeitosa diante de nossos desafios, sejam eles do tamanho que forem.
Fernanda Nunes Gonçalves